Não abundam mas também não são tão raras como possa pensar-se...
Sempre existiram figuras ilustres na Ilha do Pico e nas terras açorianas. Não as vou citar a todas porque isso seria tarefa difícil. Fico por algumas. Aquelas que melhor conheci. Outros mais bem informados e eruditos poderão fazer o resto.
Se hoje aqui recordo um ou dois é somente para chamar a atenção da entidade competente para a urgente e imperiosa necessidade de dedicar algo que os dignifique e recorde para a posteridade. Esse gesto de esclarecido entendimento sobre as figuras ilustres desta terra só prestigia quem dele for autor e, no presente e no futuro, a ilha que serviram ou lhes foi berço. Ilha que eles jamais esqueceram embora dela se tenham afastado por afazeres profissionais ou por exigências familiares. E são tantos esses que partiram e viveram uma vida sofrida pela saudade do torrão natal. Alguns deram testemunho desse estado de alma. Outros quedaram-se num silêncio atroz, uma vez que o ambiente que os rodeava não permite ou permitiu que revelassem a saudade que os abarcava: “saudades da minha terra, saudades da minha mãe”, como reza uma canção popular.
Só quem tem a experiência de viver alguns anos fora da terra-mãe pode dar valor aos sentimentos de saudade que a muitos assolapa e contrista. É uma sina à qual não se pode fugir.
Vive com eles, com esses que daqui ou doutra parte qualquer partiram e não mais voltaram.
Mas este intróito lamuriento tem algo de interesse neste momento histórico em que a ilha vai ficando despovoada e, consequentemente, condenada a um pérfido e triste abandono.
Recordemos os nossos maiores. Lembremos, no presente e no futuro, esses que em diversos lugares onde passaram a viver, se notabilizaram pela sua cultura e erudição, pela sua arte ou por uma vida honesta, séria e exemplar. Não serão centenas nem mesmo muitas dezenas mas são alguns.
Hoje trago aqui dois somente. Deles já tratei em escritos anteriores. Vou repetir-me. Não importa.
Recordo o professor catedrático, Doutor José Enes Pereira Cardoso. Nasceu ali na Silveira, donde também era natural o Pai e os ascendentes paternos. Formado em Filosofia na Gregoriana, em Roma, foi professor do Seminário de Angra, das Universidades Católica de Lisboa, de Luanda e dos Açores que ajudou a fundar e da qual foi seu primeiro Reitor. Não são de esquecer as “Semanas de Estudo”, que organizou em Angra na década de sessenta do século passado e que tamanha repercussão tiveram nos meios culturais e científicos do País. Foi um dos mais prestigiados Mestres da cultura portuguesa e, presentemente, encontra-se vivendo em Lisboa, sofrendo de dolorosa doença física.
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Quando o concelho comemorou o quinto centenário de vida municipal, o Doutor José Enes veio cá tomar parte nos eventos culturais, comemorativos. Nessa ocasião recebeu as homenagens da Edilidade Lajense. E foi só. No exterior nada há que assinale a sua inconfundível Personalidade. E era tempo de isso acontecer. Ao menos uma placa na casa onde nasceu e viveu a sua infância.
O doutor Julião Azevedo nasceu no Caminho de Cima da freguesia da Piedade. Ainda por lá tem parentes, embora os pais se tenham deslocado para Angra, a fim de poderem dar cursos liceais aos filhos.
Formado em História e Filosofia pela Universidade de Lisboa, foi professor do Ensino Secundário e, depois, escolhido pelo Instituto de Alta Cultura para Leitor da Faculdade de Letras da Universidade de Poitiers. Depois passou para a Universidade de Paris (Sorbone), uma das mais prestigiadas escolas da França “contribuindo para um interesse cada vez maior pela nossa cultura”. Regressado a Lisboa “foi incumbido pelo I.A.C. de preparar um valioso acervo bibliográfico que, por ocasião do Centenário da Cidade de São Paulo (Brasil), em 1954, seria oferecido como fundo da biblioteca do Centro de Estudos Portugueses, então criado na Faculdade de Letras e Ciências Humanas daquela cidade, tarefa que não chegou a completar por ter falecido inesperadamente”, em Abril de 1953, aos 30 anos de idade. Mesmo assim publicou em vida diversos trabalhos de apreciável valor, um dos quais, Condições Económicas das Revolução Portuguesa de 1820 que, se bem sei, foi adoptado como compêndio de estudo pela Universidade dos Açores.
Aquando seu falecimento o Boletim do Instituto Histórico da Ilha Terceira registou o infausto acontecimento com as seguintes palavras, tombadas em acta da sessão de 1 de Junho de 1953: “Foi aprovado por unanimidade que se lançasse na acta um voto de profundo pesar pelo falecimento prematuro do Dr. Julião Soares de Azevedo, natural desta ilha, e que na sua curta carreira de professor se notabilizou por trabalhos históricos e linguísticos, alguns deles referentes à Terceira.”
Só se ressalva que o Dr. Julião nasceu na freguesia da Piedade desta Ilha em 1920. É tempo de, na freguesia natal, lhe ser prestada a homenagem de que é merecedor.
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